A “guerra comercial” tem gerado bastante incerteza em todos os agentes económicos, implica riscos de desaceleração económica global e é um passo atrás no caminho para o livre comércio. O comércio internacional livre promove a especialização dos países naquilo que produzem melhor, facilita o acesso a uma maior variedade de bens e serviços e contribui para o aumento da qualidade de vida a nível global, ao permitir preços mais baixos e maior inovação.
No entanto, nem tudo estava bem. Práticas como o dumping social — em que empresas se aproveitam de países com legislações laborais mais frágeis para reduzir custos — o dumping ambiental – quando a produção se localiza em regiões com normas ambientais menos rigorosas – o dumping por subsídios –estados a subsidiarem setores ao nível da investigação, produção ou distribuição – ou o dumping legislativo – em que as regulações técnicas criam barreiras à entrada – criaram desigualdades e impactos negativos.
O comércio livre pode também prejudicar setores estratégicos ou emergentes de alguns países. Se a isto juntarmos a assimetria de tratamento a que os EUA foram muitas vezes sujeitos, percebe-se melhor a azáfama de Trump e as consequentes preocupações da União Europeia.
Mas, em 2025, tem havido outro fator com impacto na posição competitiva da Europa: a taxa de câmbio. Em parte, é um assunto que já tem sido destacado, quer nas notícias, quer pelo próprio BCE. O dólar acumula uma desvalorização de aproximadamente 12% em relação ao euro desde janeiro, estando em mínimos de cerca de quatro anos. Acaba por ser uma tarifa adicional que os exportadores europeus têm de suportar, com as empresas locais a enfrentarem concorrência externa subsidiada pelo câmbio.
O impacto não se esgota nas relações comercias com os EUA, pois existe com todos os países cuja moeda tem alguma ligação ao dólar. E, dentro destes, a China merece destaque especial. O yuan chinês está em mínimos de 11 anos (!) em relação ao euro e já desvalorizou mais de 10% em 2025. Segundo o Eurostat, a China representa 21,3% das importações da UE e os EUA 13,7%, pelo que estes movimentos cambiais têm impacto material no panorama concorrencial interno. Por outro lado, a China absorve apenas 8% das exportações da UE e os EUA 21%. Neste caso, cerca de 30% das vendas – não tendo em conta muitos outros países da área do dólar – enfrentam este ano uma “tarifa cambial” de mais de 10%.